quarta-feira, 15 de julho de 2009

Domínio Público.



Lamentável, não? Alguém conhece o site Domínio Público? Pois bem, é um site repleto de obras literárias, artigos científicos e tantos outros arquivos que deixa qualquer sedento por conhecimento enlouquecido. Agora, a má notícia: esse site vive pendurado, sair ou não do ar, e sabe o motivo? Falta de acesso. Isso mesmo, nós, queridos brasileiros, usamos a internet pra tantas coisas que por vezes nos esquecemos de que existem sites como o Domínio Público. Volto à pergunta inicial: lamentável, não? Sei que muitos fazem leitura sim, mas grande parte de nós ignora esse meio. Ok, não estou aqui pra criticar ninguém, apenas para informar àqueles que por ventura se interessem pelo site para que façam um tour por lá. Vale demais!

Obrigada pela atenção!

Conversas com uma amiga.

Ora muito bem... O apartamento era simples, a festa banal, a música boa e as companhias essenciais... Enquanto a música rolava e alguns amigos iam pra varanda, eu e ela ficamos sentados no chão, um de frente para o outro, cada um com seu cigarro e seu copo de vinho tinto barato. E o vinho, ahh o vinho! E os cigarros pra ambientar melhor a atmosfera daquele momento mágico de uma conversa um tanto bebâda, mas franca, com uma grande amiga.
Olhei para ela e dei de ombros, num sorriso sem dentes. Ela então começou...
-Então Frank... O que é que há?
-Olha... boa pergunta. Eu não sei.
-Quem é que sabe de alguma coisa nessa vida?
-É... porra... é... Enfim, eu acredito que cheguei a uma conclusão bastante interessante sobre tudo isso...
-Sobre tudo isso o que?
-Isso tudo... Veja, acho mesmo que podemos falar no máximo daquilo que nos condiciona, saca, da nossa condição ignorante no mundo? Mas, o que somos em si acho que é pura especulação.
-Concordo contigo Frank...
-Porque somos tudo e nada ao mesmo tempo, somos uma comparação, entende? E por sermos uma constante comparação nós mudamos constantemente...
-Exatamente! Eu acho que nunca somos, apenas estamos, apesar de sermos algo, entende?
-Sei... interessante porque enquanto somos, estamos... E enquanto estamos, somos.
-É! Logo nem nós e nem ninguém sabe de fato o que somos, tipo, sabemos que somos algo, mas nos conhecemos a partir do quando em que estamos, em diferentes momentos...
-Sim porra... É essa a nossa condição no mundo, perante ele e perante os outros e perante a nós mesmos... É disso que podemos falar sem medo, ou melhor, especular seguramente... Pode isso tudo não passar de um sonho de um maluco?
-Poxa Frank... Vivo me perguntando isso! É mais um mistério que me enlouquece...
-Porra... Pergunte isso vivendo... entende?
-Sim, é isso que tenho feito nos ultimos tempos...
-Quer mais vinho?
-Quero, enche ai...
-Então... Que bom... Sabe, viver a vida e esquecer de certas coisas servem justamente para não nos enlouquecer de vez, ou melhor, não perder o fio da meada... saca? Aquela pouca fé que temos e que de vez em quando nos sustenta...
-Exato! É por isso que tenho me sentido tão bem... Tem fogo ai?
-Perae... Toma o isqueiro...
-Sabe... eu cheguei a conclusão de que cada um fica bem ao seu modo Frank... Mesmo aquelas pessoas que vivem se punindo e blablabla, se aquele é o jeito delas, então porque não deixá-las serem assim?
-É... te entendo, mas ainda acho que deve ter um limite... Senão a pessoa se auto-obseca e fica se fodendo pensando que esta bem...
-Aham... Concordo contigo, mas digo que cada um tem seu jeito de ser feliz. Não existe um estereotipo de felicidade, apesar de usarmos muitos sem querer e sem notar...
-Felicidade... Puta que pariu... Felicidade... Que é ela pra você?
-Olha... pra mim felicidade é o que passamos a vida inteira conquistando, saca? É a falta de algo, a angústia do não ter e a alegria por conquistar. É partir pra outra Frank, é o motor da sociedade!
-Isso é insatisfação, não?
-Acho que não, porque satisfação nos deixa deprimidos, as vezes pode sim nos impulsionar e tal... mas nos impulsiona pra ir de encontro com a nossa felicidade que, na minha concepção, nunca é plena.
-É.. mesmo porque se for plena não tem mais porque ser feliz. É como a lamentação... Quando acaba a causa dela não tem mais um porque existir... vira um fantasma.
-Isso mesmo!
-Legal, legal... então a falta é o que nos impulsiona... E não pode ser plena porque falta?
-É.. penso assim. Pode não ser verdade, mas penso assim...
-Pra mim faz todo o sentido.
-Bom então... vinho por favor!
-Opa...
Nessa hora ficamos bebericando cada um o seu copo de vinho, pensando em tudo que acabávamos de dizer... A coisa fluia... Ficava claro, apesar de sabermos o quão ignorantes ainda o erámos para com qualquer coisa que fosse. Olhei pra ela e ela sugava lentamente seu cigarro, olhando pra varanda, para o céu escuro daquela madrugada... O vinho acabou e fui buscar mais. Alguém a chamou na varanda. Bebi uma garrafa inteira sozinho. A festa valeu a pena.


Felipe Ribeiro & Dinah Lorena